bem vindos ao lugar,
não,
a casa,
onde se percebe,
não,
onde se toca
a confusão das palavras,
não,
das idéias
que não se exprimem,
não,
que se ausentam
ao tempo,
não,

ao exílio
das horas.


quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

retalhos da vida íntima II

retalhos da vida íntima II

ajuntados daqui e dali,
esses focos
em filtro sépia
dos fatos
naturais da memória.
(não é dizer)
qualquer idéia basta.
costura colcha
(saldade)
de preço salgado.
uma infância - poços lamacentos,
os trilhos (e os do trem).
o corrego
e a pedra d'onde se pulava.
a imagem expandida...
a cidade solitária
ao sopé do morro...
o tempo
nos rouba força e vida -
mas nos dá,
cada vez mais caros,
à medida em que escoa os minutos,
tesouros irrecuperáveis á memória.
e como dói
a vida esvair-se
em horas aflitas
contra a finitude...
já acumulei tres séculos
e anseio por mais três.
tenho a alma na pena (plena)
e as lembranças
no papel virgem
à compor,
à decompor e recompor
esses retalhos que costuro.
fica tudo atrás
d'algum lugar inacesível.
novos são os escopos.
residencias esparsas outrora.
a praça no centro,
e o poço,
mais no centro ainda,
exposto aos mitos
(arrepios)
uma estranha simetria
da morte e a tarde cinza
de um certo "véio Zuza" - estranho!
nem todo pedaço
é belo e inefável.
impossível reter
o sol e a membrana
que protege nossos arquétipos
como impossível
é reter os meninos
que me correm doidos
na memória viciada.
é mais fácil desejar
esse silêncio de tarde vazia
duma cidade
no interior da lembrança
livre da cacofonia do presente.

charles souza.

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