bem vindos ao lugar,
não,
a casa,
onde se percebe,
não,
onde se toca
a confusão das palavras,
não,
das idéias
que não se exprimem,
não,
que se ausentam
ao tempo,
não,

ao exílio
das horas.


quarta-feira, 10 de outubro de 2007

antibiolírica

antibiolirica

uma ídéia
entoada
na fraseologia
dosada
do poema
antibiótico
receitado
para curar
anacronismos
que inundam
almas cansadas
sempre
da mesma
terceira pessoa
desse universo
singular.

charles souza

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

poema de veraneio (devaneio)

Nesta noite veraneada
de insetos, de revoada
de arvores cor de cinza
ond'estrelas prateadas.


Noite de sonhos entremeados
de lânguidos suspiros vindos
onde fogueira medieval esvai
a fugas à quilombos extintos.


Deixo vir a ninfa - os peixes -
o vinho - a rima e a métrica.

A ninfa seduzi.
Os peixes comi.
A rima tesci (foi-me fácil)
a métrica é assimétrica
desse mundo de réplica (de sonhos)
de vriadas sílabas contadas
[somadas...

Nesta noite veraneada
de lua cheia prateada
de árvores vivas e mortas
de sussurros atrás de portas.

Eu vivo esse reino absurdo
de loucos, cegos e obtusos
de facas traiçoeiras e beijos
fadas, druidas e escudeiros.

Deixo vagar a ninfa - os peixes
o vinho - a métrica.
à ninfa erigí uma estátua
( por esta vão condenar-me)
os peixes comí por fome
(isto me basta)
a rima que tesci
-com uma métrica assimétrica-
compos-se nesta hora
de variados números
decompondo meu reino
tijolo
a
t
i
j
o
l
o
se é que se sabe
qual é a matéria concreta
de que são feitos os abstratos
dos sonhos secretos

nessa noite veraneada
de dragões e cavalgadas
onde menestréis a m'encantar
num som barroco a deixar
pelo vento ir-se...
pelo vento ir-se...
vento ir-se...

p l v n o r - s
e o e t i e...
(ecos)

levaram-me, estes elísios
a voz-
a ninfa-
os peixes-
a noite veraneada-
os sonhos-
acordo:
descubro
que criei n'outro mundo
um sentimento obscuro;
saldade de um reino mudo
de sonhos em construção.

Charles Souza.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

descarteando..

"o belo é feio e o feio é belo,
pairemos entre a névoa e o ar impuro."
Willian Sheakspeare, Mcbeath; fala das três feiticeiras.


existe um lugar em que não ouso pensar
nem sair, tampouco exilar-me.
existe ali uma casa, uma casca,
uma carapaça para eu me esconder
do ódio e do medo da violência
da filosofia e da agressão das palavras.

há nesse lugar uma espessa nuvem,
uma bruma de ignorância,
um assassinato da razão.

é meu interior massificado
ininteligível e cada vez mais devassado
pelos eflúvios que me governam.

o ar rarefeito e pesado corrói ainda
com força desconhecida e alimenta
sem perfil as doses diárias de solidão.